Como Macunaíma se tornou loiro?

Perguntado por: uramos . Última atualização: 7 de julho de 2023
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Macunaíma por ser o primeiro a banhar-se torna-se loiro. Jiguê, o segundo, devido a água já estar suja do negrume do herói, fica com a cor de bronze (índio); e por fim, Manaape, que representa o negro, só embranquece a palma das mãos e a sola dos pés.

Lembram-se do que Macunaíma fez no final para se tornar o herói ideal, representante do povo brasileiro? Ele tomou um banho! Isso mesmo, um banho, ele se lavou. O ato que universalmente significa purificação e limpeza foi o que Macunaíma fez para tornar-se branco no capítulo V do livro.

Ele toma banho em uma água mágica e sua pele fica branca, os olhos azuis e os cabelos loiros. Jiguê também decide se banhar na piscina natural, mas como o irmão já tomou banho nela, o máximo que ele consegue é obter a cor do bronze. Maanape fica com o restinho da água e só molha a palma das mãos e dos pés.

Ela não quis, e Macunaíma chorou até a noite. No dia seguinte, Sofará, companheira de Jiguê, levou o menino para passear. Então, quando “deitou o curumim nas tiriricas, tajás e trapoerabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo”, e os dois “brincaram” (tiveram relações sexuais).

Foi o verdadeiro amor de Macunaíma, e, ao morrer de desgosto depois da morte de seu filho, dá a muiraquitã para o nosso anti-herói. Piaimã: é o gigante que, disfarçado de Venceslau Pietro Pietra, rouba a muiraquitã de Macunaíma, tornando-se seu principal inimigo. No final, o herói mata Piaimã e toma de volta a pedra.

Em Macunaíma o nacionalismo tem um caráter crítico e a figura do índio aparece causando uma reflexão sobre o que é ser brasileiro.

As aventuras do “herói de nossa gente” podem ser por vezes engraçadas, mas a moral da história é amarga. Aliás, achar graça na malandragem também é um vício brasileiro. Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter”.

Macunaíma, o herói do nosso povo, possui uma marca lingüística, a famosa frase “Ai! que preguiça!...” “Ai, que preguiça” – uma só frase, duas culturas, dois idiomas, uma onomatopéia e um pleonasmo.

Mas não é só isso que faz a grandeza dessa obra-prima, o romance rapsódia Macunaíma - O herói sem nenhum caráter, que o modernista Mário de Andrade (1893-1945) publicou em 1928, há 90 anos.

Piaimã: é o gigante que tinha em seu poder o amuleto de Macunaíma: o muiraquitã. Ceiuci: mulher do gigante Piaimã, que tentou devorar Macunaíma. Vei: “deusa sol”; mulher que representa o Sol. Ela queria que Macunaíma se casasse com uma de suas filhas.

O novo filme de Miguel Antunes Filho, “Filhos de Macunaíma”, é uma provocação política que se permite existir pela configuração daqueles corpos antes a reestruturação do governo. Seu título surge em meio a oposição estatal à cultura e o nacionalismo tóxico crescente.

O anti-herói Macunaíma é o retrato do próprio povo brasileiro. O herói preguiçoso, mulherengo, cheio de astúcia porém frágil. Incorpora o famigerado jeitinho brasileiro do qual muitos se vangloriam e tantos, entre os quais me incluo, se envergonham.

Num confronto entre os irmãos e um monstro chamado de Boiúna Capei (que logo se torna a rechonchuda lua), Macunaíma perde o seu amuleto. Sabe, por intermédio de um pássaro, que a tal pedra foi engolida por uma tartaruga tracajá na praia do rio.

Em seguida, o herói morre e ressuscita, com ajuda de Maanape, que junto a Jiguê cuidam do irmão. Macunaíma trai novamente o irmão, com Suzi, que pega os dois juntos, e decide mandá-la ir embora, que se transforma em estrela (capítulo XIII) – reinvenção mágica trazida na obra.