Por que o nome torto arado?

Perguntado por: asoares8 . Última atualização: 17 de julho de 2023
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Ela lembrava e sonhava com esse arado que era meio torto, era do seu pai trabalhando na terra de outras pessoas, trabalho de agregado que, atualizando a escravidão, formou a mão de obra brasileira. Mas Belonísia gostava do som da palavra e talvez de alguma coisa que lhe remetesse à criação, à plantação, à vida.

Torto Arado, mais que o título desta obra, representa um instrumento agrícola arcaico e obsoleto, que simboliza as permanências do passado colonial e as marcas indeléveis e deletérias da escravidão, fundantes da formação da sociedade e do Estado Brasileiro, de suas mazelas e desigualdades.

Conta a história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, marcadas por um acidente de infância, e que vivem em condições de trabalho escravo contemporâneo em uma fazenda no sertão da Chapada Diamantina. O romance foi originalmente publicado em Portugal, pela editora Leya, após vencer o prêmio de mesmo nome.

O que significa Torto Arado
O título faz referência à uma das palavras que Belonísia tenta falar após o acidente: 'arado'. Mas o som sai prejudicado: ' era um arado torto, deformado, que penetrava a terra de tal forma a deixá-la infértil, destruída, dilacerada'.

A mensagem por trás da história é um tapa na cara sobre problemas que ainda hoje persistem em nosso país. E mais, prepare-se para chorar, pois Torto Arado é um romance comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.

Narrado primeiramente por Bibiana, depois por Belonísia e, na terceira parte, por outra personagem, o romance já começa com o clímax de um acidente: crianças, as duas irmãs —filhas de Zeca Chapéu Grande, um líder comunitário e espiritual— encontram uma faca da avó Donana.

Sua temática aliada a um engajamento de leitores nas redes sociais aumentou ainda mais sua demanda. Foi nos últimos meses de 2020 que a pesquisa do termo Torto Arado deslanchou, segundo o Google Trends, atingindo seu ápice em fevereiro deste ano.

O jarê, religião de matriz africana, típica da Chapada Diamantina, é o fio condutor da narrativa Torto arado (2019), de Itamar Vieira Junior. Perpassa pela religiosidade toda a trajetória das personagens.

Itamar Vieira Junior

O convite para estas obras veio após a artista ilustrar a capa do livro mais vendido na Amazon em 2021: o premiado Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. A ilustração foi baseada em uma fotografia da série Nouvelle Semence (2010), realizada em Camarões pelo fotógrafo italiano Giovanni Marrozzini.

Torto arado, de Itamar Vieira Júnior, um escritor pouco conhecido até 2018,[i] recebeu consagração com os Prêmios Leya (em 2018) e Jabuti (em 2020). Desde as primeiras leituras, a crítica e o público o acolheram com entusiasmo.

A primeira parte de Torto Arado é narrada por Bibiana; a segunda, por sua irmã, Belonísia. As duas são filhas de Zeca Chapéu Grande, um dos trabalhadores de Água Negra e líder do jarê, religião afro-brasileira praticada na região da Chapada Diamantina, influenciada pela umbanda, pelo espiritismo e pelo catolicismo.

Uma família negra, de descendentes de escravizados que migrou pelo interior da Bahia em busca de um pedaço de terra para plantar e se sustentar. A trama se desenrola, provavelmente, entre as décadas de 1960 a 1980. Bibiana narra o primeiro capítulo, enquanto Belonísia faz esse papel no capítulo seguinte.