Quem ia para o Holocausto Brasileiro?

Perguntado por: aagostinho . Última atualização: 17 de julho de 2023
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Eram crianças rejeitadas pelos pais por mau comportamento ou algum tipo de deficiência; filhos tidos fora do casamento; mulheres estupradas pelo patrão ou algum homem importante na época, com dinheiro suficiente para esconder o crime; epiléticos; alcoólatras; homossexuais.

Para o Colônia, eram enviados "pessoas não agradáveis", como opositores políticos, prostitutas, homossexuais, mendigos, pessoas sem documentos, entre outros grupos marginalizados na sociedade. Estima-se que cerca de 70% dos pacientes não tinham diagnóstico de qualquer tipo de doença mental.

O Iluminuras entrevista a jornalista Daniela Arbex, autora do best-seller "Holocausto Brasileiro", em que denunciou o genocídio de 60 mil pessoas no maior hospital psiquiátrico do Brasil.

Muitos dos pacientes eram levados pela própria família (com consciência das condições): eram renegados, mulheres abandonadas pelos maridos e parentes com deficiências e transtornos.

Segundo o livro Holocausto Brasileiro, lançado em 2013 pela jornalista Daniela Arbex, o descaso que acompanhava a política de internação compulsória para pacientes com transtornos mentais em manicômios resultou na morte de cerca de 60 mil pessoas, expostas ao frio, à fome e à tortura.

Os cadáveres de mais de 1.800 pacientes foram vendidos para universidades até os anos setenta. O resto era levado em um carrinho até o cemitério para ser jogado em valas comuns.

Hoje, o local abriga o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena e conta com 171 pacientes em regime de internação de longa permanência. Mesmo com o fim do manicômio, eles continuaram internados porque não tinham vínculo familiar nem para onde ir.

O hospital Colônia de Barbacena foi fechado no fim dos anos 80. Alguns pacientes que sobreviveram à época da barbárie hoje recebem acompanhamento no Centro Hospitalar Psiquiátrico da cidade. Outros foram transferidos para Belo Horizonte.

Mas foi só na década de 1980 que a história de terror do Colônia teve um ponto final. Mais tarde veio a reforma psiquiátrica, em 2001, e foi estabelecido um novo modelo de assistência na saúde mental, baseado em uma rede de serviços e com os pacientes sendo tratados em residências terapêuticas.

De acordo com a jornalista Daniela Arbex, autora da publicação, a vida dos internos do Colônia envolvia “um cotidiano de muita limitação, de frio, de fome, de maus tratos físicos e tortura psicológica”. Os pacientes, que muitas vezes eram internados sem qualquer critério, eram os excluídos da sociedade.

Na cidade do Holocausto brasileiro, mais de 60 mil pessoas perderam a vida no Hospital Colônia, sendo 1.853 corpos vendidos para 17 faculdades de medicina até o início dos anos 1980, um comércio que incluía ainda a negociação de peças anatômicas, como fígado e coração, além de esqueletos.

'O fim dos manicômios entrou no bojo da reivindicação de que a liberdade tinha que ser extensiva a todos' Foi há exatos 20 anos. Depois de tramitar por mais de uma década, finalmente em abril de 2001, a lei 10.216 foi aprovada e sancionada.